Monthly Archives: Abril 2013

Dinheiro a quanto obrigas…

Retomo aqui um post publicado no seu Facebook por Eduardo Cintra Torres e que subscrevo destacando a enorme gravidade desta história. Não acho é que da Impresa possam vir quaisquer explicações sem que elas antes não passem por um qualquer lápis azul.

Eduardo Cintra Torres

O grupo Impresa (Expresso, Exame) tem a obrigação estrita de dar a sua versão dos factos narrados por esta ex-jornalista do grupo. Se não o fizer, ficará o relato da jornalista de como se faz censura hoje, neste caso por causa de interesses económicos. É patético que isto aconteça quando a SIC, da Impresa, apresentou esta madrugada de 25 de Abril um excelente telefilme sobre o Lápis Azul em 1973-4, passado nos Serviços de Censura. É também interessante a intervenção do chamado Conselho “Deontológico” do Sindicato dos Jornalistas: avaliando pelo relato, uma vergonha (caso frequente no que aos “deontólogos” sindicais diz respeito).
O relato de Marisa Moura está no seu blogue, aqui:
http://perguntasinofensivas.blogspot.fr/2013/04/testemunho-de-uma-jornalista-que-teve.html

Perguntas inOfensivas

Perguntar ofende? O ditado diz que não, mas a experiência confirma que sim. Seja como for, eu cá pergunto. Continuo na chamada Idade dos Porquês, típica dos 4-7 anos de idade. Freud,saberias explicar isto?

Sexta-feira, 19 de Abril de 2013

Testemunho de uma jornalista que teve de despedir-se por causa do Barclays, e não só.

Até que ponto os banqueiros teriam sido tão desonestos se os jornalistas não colaborassem conscientemente com essa desonestidade? Sublinho: conscientemente.
A resposta à pergunta pode passar por esta outra questão: Qual a relação entre os actuais escândalos Barclays, as listas das Melhores Empresas para Trabalhar da Exame, uma certa entrevista no Expresso e a “resignação” de uma jornalista agora precária?
Sou a pessoa indicada para responder. Sou a tal jornalista que se viu obrigada a “resignar”, para não alimentar desonestidades que, pelo contrário, combate, desde criança.
A história deu-se em 2010 e ilustra bem a hipocrisia dos directores dos jornais que hoje noticiam alguns escândalos do Barclays, seja a manipulação das taxas em Inglaterra, seja a concertação aqui em Portugal, que acaba de levar à suspensão do presidente do banco Peter Mottek e três administradores, por denúncia da própria sede inglesa. E refiro-me, em concreto, ao Expresso.
Síntese: Em fevereiro de 2010 é publicada na revista Exame mais uma lista anual das Melhores Empresas para Trabalhar, a edição mais vendida do ano. Eu trabalho nessa revista e no Expresso em simultâneo, ambos do grupo Impresa de Francisco Pinto Balsemão. O Barclays surge na lista preliminar das empresas a listar, passível de chumbo após a visita do jornalista, segundo as regras do jogo. Sou eu a jornalista encarregue de fazer a triagem no Barclays. O meu relatório chumba a sua entrada na lista. A direcção da revista insiste em inclui-lo, sendo por isso suposto figurar na tal edição anual um artigo sobre as “maravilhas” de se trabalhar no Barclays.
Ok, escrevi. O texto foi este, neste link. «Reina o que os americanos resumem como ‘be the best, fuck the rest’» foi uma citação polémica num artigo que, todo ele, destoava da cor-de-rosa dominante da edição (curiosamente, anos depois, essa “cultura” interna do Barclays, haveria de ser notícia internacional).
Não sei se algum director da Exame terá lido o meu artigo antes de ele ser publicado. Só sei que saiu como o escrevi e que assim que saiu fui logo informada que havia conversas entre o Barclays e a administração do grupo Impresa. Foram também chamados “à recepção” a então directora da Exame, Isabel Canha, e o então director do Expresso, Henrique Monteiro, que era também o publisher responsável pela área editorial do grupo que incluía ambas as publicações.
Recebi chamadas de pessoas que me contaram casos graves sobre o Barclays. Muito graves, tão graves que ninguém quis arriscar a sua pele(incluindo vítimas directas) e eu sozinha não faço milagres tais como fazer aparecer documentos de prova nas minhas mãos. Entretanto a coisa parecia ter acalmado quando eis que…
Factos seguintes: Uma entrevista ao presidente do Barclays é publicada no Expresso quatro meses depois, em Junho de 2010. A tarefa de realizar essa entrevista é atribuída a um jornalista por um membro da direcção, durante a ausência para férias do honestíssimo editor de economia daquele jornal. Título: «A ambição de estar entre os primeiros» Conteúdo: é ver aqui, e tirar as conclusões.
Qualquer nodoazita negra que uma publicação provoque num anunciante ou credor, logo se promete um hirudoidezinho noutra do mesmo grupo. Assim se protegem bandidos e pior, se os eleva ao pedestal de bem-feitores. Assim se minam as democracias, e a humanidade. Simpatia a simpatia.Isto é só um pequeno episódio entre os muitos diários que toda a gente acha normal, incluindo o próprio sindicato de jornalistas.

E foi “só” por isso que me despedi? Não. Fui por muito, mas muito mais. E a gota de água, em Dezembro desse mesmo ano de 2010, foi esta, com um outro banco: o BCP.

Aí a direcção da Exame ultrapassou todos os limites éticos e legais e, qual lápis azul salazarista, pura e simplesmente retirou-me de um artigo, sem qualquer consulta ou “razão atendível”, uma frase até meio inócua que dizia, a propósito de uma nova directiva europeia: «Todos terão de prestar mais contas, inclusive fundos de pensões como o do Millennium BCP, onde a antiga administração liderada por Jorge Jardim Gonçalves (já condenada) tentou esconder 593 milhões de euros de prejuízos do banco». E uma outra parte sobre o stress, ainda mais inócua [sublinhado a amarelo no pdf do artigo, os sítios donde foi sacado texto]. Alega que não pôde consultar-me porque eu estava de férias (as férias, outra vez…). Sendo que as minhas férias eram de um ou dois dias, super-contactável, para afazeres académicos.
Tudo isto após eu ter tido problemas com o BCP em 2005 e o grupo Impresa já ter visto, em 2004, o BES cortar-lhe a publicidade, bem como anteriormente o próprio BCP tinha feito em 2000/01.

Pérola final: apresentei queixa ao sindicato dos jornalistas sobre a tal censura salazarista. Sabem qual foi o peregrino parecer deontológico? Este aqui.Destaco a conclusão final:

«(…)também porque os dois parágrafos retirados foram substituídos por outros que constavam do texto original da autora, não é possível ao CD concluir de forma inequívoca ter-se tratado de um acto de censura.» Ou seja: se escrever meio texto mais positivo, e a última metade mais negativa, e me cortarem a última metade toda, repaginando o texto, já não é censura porque não ficou nenhum buraco em branco e todo o texto publicado é de autoria da mesma pessoa.

Despedi-me, por impulso, sem sequer ter tido o discernimento de me despedir por justa-causa. Despedi-me com um saláriozeco no bolso e sem direito a qualquer subsídio. Hoje sou precária, mas honrada e melhor ainda: mais feliz e saudável. Mas, se preferia à partida ser precária? Não, não preferia. Preferia poder exercer livremente o meu trabalho sem pressões dos meus próprios directores, como seria suposto acontecer numa democracia.

Banqueiros, políticos, jornalistas… Qual deles a pior escumalha?

Publicada por à(s) 17:24

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O grupo Impresa (Expresso, Exame) tem a obrigação estrita de dar a sua versão dos factos narrados por esta ex-jornalista do grupo. Se não o fizer, ficará o relato da jornalista de como se faz censura hoje, neste caso por causa de interesses económicos. É patético que isto aconteça quando a SIC, da Impresa, apresentou esta madrugada de 25 de Abril um excelente telefilme sobre o Lápis Azul em 1973-4, passado nos Serviços de Censura. É também interessante a intervenção do chamado Conselho “Deontológico” do Sindicato dos Jornalistas: avaliando pelo relato, uma vergonha (caso frequente no que aos “deontólogos” sindicais diz respeito).
O relato de Marisa Moura está no seu blogue, aqui:
http://perguntasinofensivas.blogspot.fr/2013/04/testemunho-de-uma-jornalista-que-teve.html

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perguntasinofensivas.blogspot.com

Perguntar ofende? O ditado diz que não, mas a experiência confirma que sim. Seja como for, eu cá pergunto. Continuo na chamada Idade dos Porquês, típica dos 4-7 anos de idade. Freud,saberias explicar isto?

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